O dia em que voltei a me sentir um flipping loser (e o que fiz com isso)

Terça-feira, 13h30, e eu só conseguia pensar: what a flipping loser I am. Assim, em inglês mesmo.

A primeira aula de um curso de Liderança em GTM, que eu tinha escolhido com o maior cuidado, tinha acabado de terminar. Era online, ao vivo, com umas 70 pessoas na sala e uma boa dinâmica.

Os participantes pareciam todos muito bem preparados, surfando o sucesso em cargos de liderança em GTM no mundo tech.

Quer dizer, todos... menos eu.


Eu? Tava ali no meu momento de transição, meio deslocado. Mas até aí, tudo bem. O que realmente me incomodou foi sentir que eu não conseguia me comunicar no nível que aquele grupo exigia.

Não era por estarmos em momentos muito diferentes de carreira. Nem por alguma barreira profissional concreta. Era porque meu inglês não parecia bom o suficiente.

Não saber falar inglês foi o maior gargalo do meu início de carreira, e eu me dediquei pra fechar esse gap: muito estudo, centenas de horas de podcasts e audiolivros em inglês, certificação C1 de Cambridge.

Mas naquela sala não estavam apenas falantes nativos. Estavam alguns dos melhores vendedores, marqueteiros e business developers do mundo. E a comunicação — em inglês, com ritmo, clareza, segurança — era uma fortaleza pra maioria deles.

E foi isso que me fez sentir como um flipping loser.

Mas uma coisa que eu aprendi nesse último ano foi transformar desafios como esse em objetivos.

E, nesse caso, a meta era clara: participar ativamente da última aula, me sentir bem e integrado ao grupo.

Mas o quanto eu consigo melhorar meu inglês em 1 mês?

Eu vendi cursos de idiomas tempo o suficiente para saber a resposta: não muito.

Passei o resto da semana martelando esse tema na cabeça.


Lembrei da vaga que perdi em 2014 porque na entrevista final confundi insurance com security.

Do dia — 2010 ou 11 — em que meu interlocutor preferiu que eu falasse em português devagar do que em “espanhol”.


Mas também lembrei de uma apresentação épica pra mais de 15 pessoas, cada uma em um país diferente, que foi super elogiada.

De uma conversa com uma nativa de espanhol que demorou a acreditar que eu era brasileiro (mesmo chamando João).

E de algumas outras situações muito legais que só passei porque me dediquei a ser um cara trilingue.

E cada história que eu revivia e desconstruia, dava pra ver o quanto as horas que eu coloquei para desenvolver essas competências já me levaram longe.

Mas essa reflexão me trouxe outra coisa: confiança importa. E isso dá pra construir em um mês, com a cabeça correta.

Como alguns já sabem, coloquei a Engageable em um modo mais reativo pró-bono nos últimos meses e decidi voltar ao mercado corporativo.

Esse é um momento emocionalmente pesado, em que a gente questiona o nosso valor, recebe rejeições, e encara julgamentos silenciosos. É normal, é da vida profissional e em alguns momentos incomoda mais.


Só que com apoio e reflexão você aprende, não a evitar esses momentos, mas a se recuperar deles cada vez mais rápido.

E a escapar de uma espiral de autopiedade e pessimismo que pode ser bastante perigosa.

Nesse caso, o passo a passo pra processar essa emoção foi mais ou menos assim:

  1. Reconheci que ela existia. Eu estava me sentindo um flipping loser.

  2. Compartilhei com alguém. Saí do escritório e contei pra minha esposa.

  3. Lembramos de outras situações que vivi por saber e por não saber outro idioma.

  4. Coloquei a meta: me sentir integrado até a última aula.

  5. Tive o segundo encontro, num cohort menor. Foi um pouco melhor.

  6. Fiz mais uma rodada de reflexão. Encontrei bons exemplos e percebi que o problema era menos o inglês, e mais a falta de confiança.

Uma semana depois, contei essa história pra uma mentora e percebi que já tinha transformado aquele sentimento ruim em energia e confiança.

“As vezes vocês não precisa saber/aprender mais nada. Só precisa de um pouco de confiança.”

E agora? A ver lá na minha formação… faltam 4 ou 5 semanas para a última aula.

Mas na última quinta-feira eu já tive uma demonstração do que um pouco mais de confiança pode fazer.

Tive uma das melhores entrevistas da minha vida, em inglês. Consegui comunicar com clareza, precisão e desenvoltura quem eu sou e como enxergo o trabalho na cadeira que estou tentando ocupar.

No dia seguinte recebi a resposta que havia sido aprovado neste etapa… =)

Claro, ainda vou ter conversas com outras pessoas, em outros idiomas, que podem me jogar pra baixo de novo.

E isso é mais um motivo para registrar aqui que, entre as muitas derrotas — às quais todos estamos sujeitos — também vão existir dias em que eu serei um flipping winner.

Por mais desses dias, para todos nós!

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