Bill Gates, R², Decisões e a Ilusão do Controle

Acabei ontem de ler Código-Fonte, primeira parte da biografia do Bill Gates que conta a história da sua juventude, desde como seus pais se conheceram até os primeiros dias da Microsoft. O livro termina com ele dirigindo seu Porsche 911 de volta para Seattle, ao decidir mudar a Microsoft pra lá — que, naquela época, tinha menos de 20 pessoas.

Foto famosa de 11 dos 12 funcionários da Microsoft em 1978

Várias coisas me chamaram atenção durante a leitura, mas o ponto principal é — como o próprio Gates reconheceu no epílogo — a quantidade de circunstâncias que precisaram se alinhar para que ele atingisse o resultado que todos nós conhecemos. Além do fato de que a maioria delas não estava no controle de ninguém.

E isso me lembrou de algumas coisas…

A primeira, e mais estranha delas, estava lá no fundo do meu cérebro desde as aulas de econometria da graduação: o coeficiente de determinação, ou . 🤓

Correndo o risco da imprecisão — ou de falar m**** mesmo — o R² é uma medida estatística que indica quanto da variação de um determinado fenômeno pode ser explicada pelas variáveis incluídas em um modelo de regressão linear.

Se a trajetória do Bill Gates fosse um desses modelos, daria pra imaginar várias variáveis tentando explicar o resultado: ter nascido nos EUA em 1955, ser homem, branco, com pais presentes e influentes, estudar numa das poucas escolas com computador na época... Talvez tudo isso junto explicasse uma parte do sucesso dele — digamos, uns 30%, com boa vontade. Mas mesmo com esse conjunto de fatores importantes, ainda sobraria muita coisa que o modelo não daria conta. A estatística chama isso de “erro”. A vida chama de acaso, timing, escolhas certas (ou erradas) e aquele tipo de sorte que ninguém controla.

Como explicar expoente para uma criança de 4 anos, às 21h?

A segunda — mais natural — foi pensar na influência que eu, como pai, posso ter na vida dos meus filhos. Particularmente com o meu filho mais velho, que, como Gates, tem se interessado por matemática e me pede para “estudar” com ele antes de dormir.

Cada interação, cada escolha nossa — como a escola em que ele estuda, ou o tempo que passamos juntos resolvendo problemas — vai se somando na tentativa de “explicar” quem ele vai se tornar. Mas tem tanta coisa que não depende da gente. E mais ainda: tem muita coisa que não depende nem dele. 

O que quer dizer que, mesmo que eu e minha esposa fizéssemos tudo certo (o que, spoiler: não faço), ainda assim a influência no resultado final seria relativamente baixa.

E a terceira lembrança foram momentos da minha própria trajetória profissional, sobre como o imponderável já me levou pra frente e pra trás.

Uma das decisões mais acertadas da minha vida, me graduar em Economia, foi tomada por um adolescente no auge da sua incompetência inconsciente. Por outro lado, só pra citar uma história mais recente: entrevistei para o Google no final do ano passado. Saí da entrevista final achando que tinha mandado muito bem — me senti ouvido, preparado, mostrei minha melhor versão.


Oh! Nice that you brought up the law of diffusion of innovation and how it can impact adoption of workspace solutions across LATAM
— meu ex-futuro chefe

Tudo só para, alguns dias depois, receber um email de rejeição automático e ter minha auto-estima amassada. 🫠

E é aí que entra uma ideia que tem me ajudado muito nos últimos tempos: o paradoxo do care/not care.

Eu me importo. Eu faço o melhor possível, escolho com intenção, me envolvo de verdade.

Mas ao mesmo tempo, precisei a aprender aprender a não me apegar ao resultado — porque ele não não está 100% nas nossas mãos… talvez nem 50%.

Isso vale pros meninos: eu cuido, ensino, dou amor e tento criar as melhores condições. Mas sei que, no fim, ele vai ser quem ele quiser (ou puder) ser.

E vale também pra minha carreira: eu me esforço, estudo, construo… mas o que vai acontecer depois, não depende só de mim.

É desconfortável aceitar isso. Mas também é libertador. Bom… pelo menos eu acho que vai ser quando eu conseguir. 🤷‍♂️

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