Como ser pai mudou minha vida (de uma maneira não tão óbvia).
Depois de algumas semanas mais agitadas e com novas oportunidades, a semana passada foi mais devagar. Ainda tenho 2 processos caminhando, mas por enquanto sem novidades. Isso me deixou um pouco ansioso, confesso. Porém, ao mesmo tempo em que a semana foi meio devagar – do ponto de vista de vagas e oportunidades profissionais – estive sozinho com o Lucas e Rafael durante toda a semana. Quer dizer, minha sogra veio ajudar a dar conta dos dois mas, pela primeira vez, eles ficaram sem a mãe.
Isso, mais o fato de a Patricia ter ido para ATD em New Orleans, e também porque uma das palestras favoritas dela foi do Daniel Pink, é o que entrou no caldeirão para eu escrever o post de hoje.
Motivação vs Disciplina
Uma das principais ideias do livro Motivação 3.0 do Daniel Pink é que existem 2 tipos de motivação. A extrínseca e a intrínseca, sendo a primeira direcionada por fatores externos como dinheiro e vergonha e a segunda pelo simples prazer de depois de completar uma tarefa ou atividade. Eu lavo a louça em casa, mas não sem sofrimento e alguma enrolação mas, uma vez que eu me decido, não demora um segundo para ligar o videogame e jogar o novo Zelda.
Outra linha é que motivação não existe! O que existe é a disciplina e o fato de que a gente tem que engolir o choro e fazer o que ninguém faz e essa foi minha verdade por anos. Talvez tenha a ver com a minha formação, ou com uma postura mais pragmática – até um pouco cética – que escolhi para mim sabe se lá por qual motivo (Deus, acho que preciso de terapia). Me lembro de rejeitar vários livros de autoajuda e liderança que estavam “na moda” na época da faculdade, tipo: “Quem Mexeu no Meu Queijo” ou “O monge e o Executivo”. Eu dizia que eram livros de administrador. Que economista só sentava, trabalhava e fazia o que tinha que ser feito.
Essa ideia soava legal na mesa do bar mas a realidade era que, cada vez que que eu falhava em ser disciplinado em qualquer atividade eu tinha duas alternativas:
Aceitar que eu não era disciplinado e que por isso eu não conseguiria alcançar meus objetivos na vida.
Dizer pra mim mesmo que eu não queria mesmo fazer essa atividade e que seu resultado não era importante.
E durante um bom tempo fui tocando assim. Tiros curtos de produtividade e alguns bons resultados, temperados com síndrome do impostor e procrastinação.
Até nascer meu primeiro filho…
Que tipo de pai eu quero ser?
Essa foi a pergunta que eu me fiz – e ainda me faço – quando nos descobrimos grávidos, em maio de 2020, no meio da pandemia, e que eu repeti em setembro de 2022. E a resposta longa tem tudo que vocês podem imaginar no sentido de ser presente, de educar, de ser um pouco como o meu pai em alguns aspectos e de ser diferente em outros.
E, ao mesmo tempo, eu preciso construir uma carreira profissional sólida. Afinal, muitas das coisas que eu quero proporcionar para eles, em termos de educação e experiência, custam caro num país como o nosso. E pra isso eu precisava ser mais do que eu tinha sido até agora.
E só na disciplina não ia dar. Não dá mais pra ser mais inconstante. E eu preciso da minha saúde mental no lugar para todos os outros papeis que eu quero ter como pai, além de jogar Tênis 2x por semana.
Google, Youtube, pesquisar… como ser mais produtivo.
Jornada da produtividade
Tem uma tonelada de coisas sobre produtividade na internet. Meu formato favorito é vídeo (mesmo que só ouvindo o áudio) e por isso fui puxado naturalmente para o YouTube. Sério! Tem muita coisa sobre produtividade na internet e comecei, claro, fazendo uma lista de tarefas em um app.
Se eu quero ser um bom pai, cuidar das minhas relações e ter uma boa carreira, eu tenho que ser produtivo em cada minuto que eu estiver acordado. E funcionou, por uma semana. Na semana seguinte eu estava procurando a próxima ferramenta, a próxima técnica e, a cada coisa nova que eu descobria, me sentia renovado e produtivo na semana, mas pouca coisa pegou. Não foi suficiente para mudar meu patamar de produtividade no médio prazo.
Mas aos poucos as coisas foram acontecendo, não foi nenhum milagre de um dia para o outro, mas meu mindset começou a mudar. Coisas que eu só fui entender depois de pesquisar mais de de muita reflexão.
Como eu encaro motivação.
Os tipos de motivação estão mais para um espectro do que uma dicotomia.
Motivação puramente intrínseca geralmente temos para coisas que agregam pouco valor, como jogar videogame e assistir Netflix. E motivação puramente extrínseca depende 100% da nossa força de vontade, que é limitada, logo não é sustentável no longo prazo.
É em outros dois tipos de motivação do espectro que se encaixam a maioria das minha atividades. Motivação introjetada e Motivação Identificada. Motivação introjetada é quando a gente sente culpa ou vergonha se não fizer determinada coisa. Como lavar a louça depois que a minha esposa fez o almoço, por exemplo. Ou atualizar o pipeline no CRM (que pode ser minutos antes da reunião de forecast).
A minha chave ter motivação para fazer coisas que você não gosta vem da Motivação Identificada. Ou seja, a razão pela qual você está fazendo uma coisas não é que ela é inerentemente prazerosa, mas sim porque está integrada em você a importância de fazê-la, para se tornar a pessoa que você gostaria de ser.
Identidade como motivação
Quando eu me perguntei – quando grávidos – que tipo de pessoa pai eu queria ser – eu estava tocando na minha motivação identificada. Por exemplo, para mim, não é inerentemente prazeroso ir na academia 6h da manhã, mas uma parte importante da minha identidade como pai é ter energia e saúde para brincar com os meninos (além de viver bastante).
E você pode aplicar isso a qualquer novo hábito ou atividade que você precise fazer, mas que não seja inerentemente prazerosa.
Isso, segundo o James Clear, é a chave para criação de hábitos saudáveis em todos os aspectos da sua vida. Tanto que tem um capítulo inteiro no (livro) “Hábitos Atômicos” sobre isso.
Que tipo de pessoa você quer ser?
Se cuidem e, se puderem cuidem de mais alguém.